Um encontro lilás

aquele abajur lilás

a me contar secretas coisas

a sua veia romântica

saltando para agarrar meu pescoço

e uma náusea meio entreaberta

estacionada bem acima de sua áurea

aquele abajur lilás

de abóbada quase misteriosa

o risco simétrico de teu olho

o eixo de simetria de teu dorso

tudo era tão cubista

tão mínimo e ao mesmo tempo, enorme

a sala transbordava você

nos móveis, nas flores

o cheiro de tua lavanda

perfumava meus pensamentos

a xícara de chá quente

esfriava-me

e ao mesmo tempo, derretia-me

e eu sorvia tuas palavras

como se fossem rezas miraculosas

e acompanhava a expressão de teus

olhos quase que enfocados unicamente

naquele abajur lilás...

num canto da sala um quixote de bronze

parecia estupefato por estar tão só e, sem

o Sancho, o seu fiel escudeiro

o amigo que teria combatido os moinhos

com as armas da lealdade

no mundo não existia mais lealdade

as pessoas seguiam cegas na defesa de seus interesses,

o eu triunfara sobre todos os valores

não havia ética

e como falar dela?

sem parecer constrangida?

sem parecer demodè ...

o marco inicial do fim,

foi quando

tu pronunciaste que precisas de algo

e, eu desatenta pretendi saber...

e então a legenda de teus pensamentos

de repente, silenciou inexplicavelmente

era o abajur lilás que se

apagou.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/03/2007
Código do texto: T419055
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