Amor...
Teus olhos negros, então como céu nestas noites pavorosas, sempre me disseram
Um ás de sonho e abismo entre meus medos, alguns amores, dores, desvarios
Tenho sido exata ao dizer que não há amor maior que este
Nosso firmamento corrompe todo um céu, os mares, universo desfolhado
Aquelas imprecisas e intermediárias paixões, os amores d’antes
Em tudo que há, há você e mais nada toma meus sentidos
Tenho estado pura de sentimentos
Ora numa estrada sem itinerário ora morta entre estas palavras consubstanciadas
Mas arrastando os verbos do corpo
Prazer, desejo e afeto, tudo num só laço, desmoronando
Pois foi exatamente você meus anexos e mais nenhum outro
Aquele que estarei à cabeceira na efemeridade dos torpores
Aquele a quem entreguei e entrego, inda, a vida quando senão há outros caminhos
Não por opção, mas por destino
Mesmo aquele em que nos uniu numa noite morna de ardores
Lembro do teu beijo e calo-me
Imagino tuas mãos e enlaço-me
Nos sonhos sou tua mulher, o anjo derradeiro
a noiva escarlate, a fêmea única
Loira, póstuma de lágrimas e sal do tempo
Ainda e tão somente tua flor, tua serpente
O que torna-te homem, em impropério, mais que menino, creio
Uma estrela, eu!
Aquela que mordes com maior dos encantos e cospe após o grito
As pontas, dilacerantes, presas na garganta
Pois meu amor não é capaz de descer às entranhas e então, cismas
Sou tua ode primária, aquela criação inexplicável
Eva que veio para prantear tuas vezes e em vozes enlouquecer-te ferozmente
Nem sabes bem qual desatinos cumpre
Se a vida tão dura fez-se demais e inda o grito prende-te
Ainda mais os beijos que deixamos para trás
Àqueles que carregamos no peito
Inteiros e infinitos para nós
Num tempo que assombrou-se a correr vagarosamente
Sob este mesmo céu que nos fez homem e mulher
Para mistério de todos os anjos
Quando alguns perguntam a Deus onde terá fim nosso desenlace
"Em lugar nenhum", prospera o Altíssimo
Pois almas gêmeas sem sangue pelo sangue d'alma estarão unidas,
D’um sangue efervescente, doce-amargo
Destes passados pormenorizados entre luzes de natal crescentes
Não nos fez Ele homem e homem, nem bicho nem planta
Deu-nos a maneira do desencanto devastador dos desejos
E, ora, pergunto-me em desalento
“por que, meu Deus, fez-nos ausentes?”
Não quer meu amor a glória ou teu amor o pranto?
Meu corpo teu corpo, como n’algumas noites sem vida...
Queres mais que meu grito, esta maneira oca de mulher-ardente
Queres tudo e não queres nada?
Pergunto-me fria e plácida
Teu modo de conduzir as mãos, teu sopro
Por que, misérias, Deus nos fez diferentes?
Ou nos fez diferentes para que prosperasse um amor verdadeiro
Que nem anjos poderiam ocultar, entender e debulhar?
Que Cristo, por si mesmo, abençoou silencioso e sorridente
Para que almas e almas levantassem
Ao brinde, à esmo
Sem corpos para corromperem os frutos do espírito
Deste amor abundante e jovem
Porque não escorreu no tempo
No leito, nos beijos
Deste amor maior que o mundo
Porque não foi posto à prova do tédio, do ódio, do sexo?
Na dose do sexo o que há de ser prova
Para Deus, mais que nós mesmos
Amor-de-irmãos
Para nós, mais que irmãos
Amor-de- entrega
E para os outros seres
Luz a iluminar, silenciosamente, a esperança dos amores perdidos no tempo!
Dei-te tudo de mim
E, hoje, embora, entrego-me tua vida e recompenso-te, sem dores, com a minha
Pois dos males, descubro nestas linhas e em tua boca,
Não somos dois, senão dois em um,
Mesmo no tempo amargo e na distância imprecisa...
Somos o mal e o bem um do outro
Almas tortas, descompostas
Almas vivas, enfeitiçadas
O inferno e céu dos homens
Somos dois em um...
O amor mais verdadeiro que Deus esboçou
O amor insano mais sinceramente lúcido...
O maior amor do mundo!