Faces
De repente percebi que tudo tinha chegado ao fim
Nada mais poderia ser recuperado, mas me enganei,
Era apenas uma crise que abatia sobre mim, levando
Momentaneamente todo amor que um dia conquistei.
Esqueci-me de que o amor dependia da conquista diária
Com gestos e atos da emoção silenciosa e verdadeira
Embrenhei-me no mundo da razão que considera e fala
Das coisas concretas que no dia-a-dia a verdade tateia.
Vivi só por viver, como o robô que no pátio se empenha
Na realização do trabalho pesado, esqueci-me do amor,
De amar e ser amado, de repente tudo se fez como fogo
E a lanha, o coração era cinza e o corpo dilacerado.
Moribundo num canto eu sentei, fechei os olhos e pensei
Voltei aos tampos antigos em que o amor era mais amante
Que amigo, lembrei-me de quando eu era criança, a vida
Era um palco sereno e entre o anseio e a causa o amor era
Perene e unissonante.