Quando o dia amanhecer
Eu me perdi
No dia em que o Sol abriu seus olhos de ressaca
E percebi no céu um grande luar esbranquiçado
E vi o dia nascendo
E vi a aurora fenecendo
Espreguiçando-se e se indo à claridade
Que se formava chamejante
Nas estrelas que não mais vi
Tais se perderam na noite cinérea
Esqueceram-se e se dissiparam de mim
Então eu morri...
E acordei com o canto ártico
Dos pássaros gritando teu nome
Pensei-te minha
Qual saudade germinava em meu peito
Inefável amor!
Tão sincero, meigo e claro
Girassóis despertaram
E os lírios no campo sorriram
Tudo era mais puro e mais casto
Foi assim, foi assim tão belo e distante
Foi assim que uma águia adejante
Levou-me sobre seus traços
Envolvendo-me na solidão dos seus laços
Já os mares estavam secando
Já os rios num soar declamando
E auscultei superfícies terrestres
Que em saltérios segredavam mistérios
E indaguei os sentidos
Foi então que os astros cantaram
Foi...
Foi assim...
Que naquela mesma manhã
Eu me perdi... Eu me perdi!
E ouvia uma linda canção
O vento roçava num sopro gelado meu rosto
Seu falar era terno, suave, brioso
Qual sussurrar, fulcro e melodioso
Foi quando de repente o dia foi surgindo
E os meus sentimentos cotejavam sorrisos desenhados
Toda a ternura brotava os bosques
E o meu amor fugia de mim
Como um pássaro a te seguir
Ardia em meu peito...
E dardejava o amor à minha frente
Tão sincero tão puro tão meigo
Tão claro e proeminente
Existia algo muitíssimo lindo
Existia a ternura, a loucura em teus olhos
A beleza suave que apazigua meus lábios
Existiam dois corpos vazios e tão cheios
Pois sozinhos eram desertos de areia
Eram estrelas esparramadas pelo céu
Uma luz desconjunta
Que não espargia a felicidade que há nos corações
Como um lago sem peixinhos e águas doces
E como um luar ausente de um sol de verão
Eram apenas desejos...
Desejos, apenas distantes
Desejos que não queriam se ocultar
Que queriam com seu ar de dama
Um último beijo te dar.