amarante
Ele tinha silêncio comovente
Daqueles cheios olhos, suspiros e reticências
As palavras eram todas inúteis
Pois havia no ar muito mais significado
Que num gesto ou fonema
Dentro de seu silêncio secreto e exibicionista
Havia toda uma sedução pactuada
Daqueles antigas reverências
Dos salamaleques árabes
Ou dos rituais de fé...
Diante de mim estava uma pessoa real
Com defeitos, interjeições, interrogações
E, diante dele estava um fiel espectador
Que de tanto expectante atuava junto ao cenário compondo
A cena
De um de seus olhares, me lembro agora
Despencou uma fuligem de amor,
Uma névoa de paixão
E uma retidão profunda
De quem são cúmplices
Num assassinato
Matava-se toda a iniqüidade
Reinante e circundante
Em prol de sentimentos
Silenciosos
que se nutriam de tempo,
Saliva e saudade
E os corpos se entregavam à alma
Numa toda abdicação
O abstrato traía o etéreo
E na carne continha um mordaz prazer
Alguns gemidos depois,
depois da expansão dos corpos
Dos horizontes rubros do entardecer
Uma manhã chuvosa borbulhava
na janela do quarto
A espera do iceberg do cotidiano
E da pequena tempestade que é viver.