amarante

Ele tinha silêncio comovente

Daqueles cheios olhos, suspiros e reticências

As palavras eram todas inúteis

Pois havia no ar muito mais significado

Que num gesto ou fonema

Dentro de seu silêncio secreto e exibicionista

Havia toda uma sedução pactuada

Daqueles antigas reverências

Dos salamaleques árabes

Ou dos rituais de fé...

Diante de mim estava uma pessoa real

Com defeitos, interjeições, interrogações

E, diante dele estava um fiel espectador

Que de tanto expectante atuava junto ao cenário compondo

A cena

De um de seus olhares, me lembro agora

Despencou uma fuligem de amor,

Uma névoa de paixão

E uma retidão profunda

De quem são cúmplices

Num assassinato

Matava-se toda a iniqüidade

Reinante e circundante

Em prol de sentimentos

Silenciosos

que se nutriam de tempo,

Saliva e saudade

E os corpos se entregavam à alma

Numa toda abdicação

O abstrato traía o etéreo

E na carne continha um mordaz prazer

Alguns gemidos depois,

depois da expansão dos corpos

Dos horizontes rubros do entardecer

Uma manhã chuvosa borbulhava

na janela do quarto

A espera do iceberg do cotidiano

E da pequena tempestade que é viver.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/03/2007
Código do texto: T417420
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