Quero o silêncio
Quero o silêncio
sobre todas as coisas adormecido
em plantios berrantes nas cores pálidas da manhã.
Quero-o
aninhado no colo das noites madrugadas,
nas copas das árvores mais redondas. Ou nas esguias...
Quero-o a bailar na solidão estarrecida
das lisas águas marulhantes.
Estrondeado,
acima dos filões abertos de todas as fontes ou escarpas
altaneiras. Jorrante!
Quero-o manso, tenro,
para que nele voem, planem livres,
asas d' infantas Andorinhas.
Quero-o sentir azul veludo,
para que o povoem risonhas constelações de estrelas cintilantes.
Quero-o saber abrigado
na saliva do vento assobiante.
Escondido nos braços das madressilvas.
E na boca intempestiva do desejo desfalecido, adornado d'aromas de amoras.
Quero-o, para que longe de ti, meu querido,
te oiça plenamente quando choras…
Quero-o ainda,
veste de lua sobre o meu rosto
no momento silencioso em que, na mestria
e na ancestral sabedoria, descodificas um a um,
todos os meus sentidos e te expandes em mim ao Infinito.
Quero-o soberano, para que nele ecoe
o do nosso grito, amor.
Glorioso, intenso, imenso!
Divinamente humano!
Quero-te em silêncio!