Quero o silêncio

Quero o silêncio

sobre todas as coisas adormecido

em plantios berrantes nas cores pálidas da manhã.

Quero-o

aninhado no colo das noites madrugadas,

nas copas das árvores mais redondas. Ou nas esguias...

Quero-o a bailar na solidão estarrecida

das lisas águas marulhantes.

Estrondeado,

acima dos filões abertos de todas as fontes ou escarpas

altaneiras. Jorrante!

Quero-o manso, tenro,

para que nele voem, planem livres,

asas d' infantas Andorinhas.

Quero-o sentir azul veludo,

para que o povoem risonhas constelações de estrelas cintilantes.

Quero-o saber abrigado

na saliva do vento assobiante.

Escondido nos braços das madressilvas.

E na boca intempestiva do desejo desfalecido, adornado d'aromas de amoras.

Quero-o, para que longe de ti, meu querido,

te oiça plenamente quando choras…

Quero-o ainda,

veste de lua sobre o meu rosto

no momento silencioso em que, na mestria

e na ancestral sabedoria, descodificas um a um,

todos os meus sentidos e te expandes em mim ao Infinito.

Quero-o soberano, para que nele ecoe

o do nosso grito, amor.

Glorioso, intenso, imenso!

Divinamente humano!

Quero-te em silêncio!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 18/03/2007
Código do texto: T416726
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