Quarenta graus (40ºC)
Nas primeiras horas do dia
quando o dia ainda é noite
e o Sol é uma Lua alaranjada
há um calor latente no quarto
insetos zunindo nos ouvidos
uma onda de choque raivoso
sob dos pés a cabeça.
E a há outra onda
por baixo do edredom
cheia de desejos e excitação
há uma onda por baixo da camisa de pele...
Martelos, pás e picaretas
marretando, batendo, batendo
pelo lado de dentro
tentando encontrar uma passagem
para o ar quente
é um mecanismo vulcânico.
Algo quente demais por baixo da carne
querendo irromper, querendo explodir
e seu rosto são fagulhas nos meus olhos
e seu nome é agua na minha boca
e eu sou um objeto com um cigarro pendurado de lado
sou um mecanismo de Deus projetado para
sentir dor
sentir medo
sentir fome
e reclamar do tempo.
Pensar em amores platônicos
e calcular as calorias dos sagrados alimentos.
Eu sou um objeto inerte no seu tapete
contemplando a tv
com os mais nobres classicos de hollywood
e tocar a ponta do seu pé
com a ponta do meu pé
e te beijar
de leve, mas com amor
e pensar que agora um trago cairia bem
e pensar que é tarde demais ou
cedo demais
pra sentir paixão.
E sentir que há uma onda de choque
dentro de mim
querendo romper os meus fios de cabelo
e explodir.
E expandir o meu corpo por
toda a extensão do seu tapete...