NAUFRÁGIO

NAUFRÁGIO

(Lena Ferreira)

Seus olhos

tão negros, tão puros

tão cheios de candura

por um torpe desengano

transformaram-se, distantes,

em duas poças de mágoa.

Seus olhos

já frios, escuros

perderam toda a ternura

transbordaram o oceano

onde eu, pobre navegante

bebi quase toda água.

Seus olhos

tão cheios de esperar

lançavam um olhar tão frágil

para além, além do mar

como a prever meu naufrágio

onde afogar-me-ia

mas o que eu mais quereria

era naufragar no seu olhar.

- releitura de SEUS OLHOS - Gonçalves Dias