Ao teu ouvido
Sim, meu amante amado ... ao ouvido te digo:
Que ao som sentido de um Fado antigo
do meu corpo dedilhado, tensas cordas
de uma guitarra, dançarei odalisca,
moira encantada, dança (e)terna do ventre,
de ti enamorada.
Farei d'ondulado mar uma secreta estrada.
De cada virgem vaga, transparente alvorada.
Edificarei na espada cravada no lual monge,
no ventre da noite que tomba, ancora madrigal,
perpetuamente afirmada. Um pilar, um umbral!
E na saliva da minha trigueira boca beijada
terás assegurado o teu casto alimento
e o travo agridoce do refresco suculento
de uma fruta silvestre.
E quando de lá da acerejada planície
os brilhos todos lunares
incendiarem o palco real dos afectos
encontrarás no tear dos meus braços,
prímulas, rosas, abetos - preludiares
alfabetos -, e os elevos mais confessos...
E no momento em que a cândida madrugada,
envergonhada chegar, meu amado encantado,
te juro não encontrará em nenhum lado,
espaço algum para ficar.
Que aqui neste lugar
mora o Sol em permanência, iluminando
a caverna crepuscular, provindo de outra vida.
É alfarrábio, é processo, é de nós reminiscência ...
É o regresso da raiz ao colo e ao seu berço...
Este colo que te ofereço!!!!