As duas meninas enamoradas no Metrô.

Duas meninas, lindas meninas, enamoradas,

no Metrô de São Paulo.

Recostadas nas portas do vagão,

recostadas uma na outra,

se relando meio sem jeito,

se roçando de todo jeito,

se lambuzando, se selando.

Emprestando olhares fumegados de carinho,

untados de paixão,

rechaçados de pureza virginal.

Carícias roubadas, beijos rasteiros,

suores trocados misturando suas almas.

Tateando sem pressa, sem medo,

sem fuligem.

Duas meninas escapulindo dos 15 anos, diria.

Duas meninas entrando nas ancas adultas,

entrelaçadas nas suas escolhas,

fundidas nas suas bolhas,

fundidas, plenamente fundidas.

Pessoas fingiam que não viam,

mas viam tudo, todos detalhes,

todas nuances, tudo que estava atrás daquele véu.

Pessoas velhas, amadurecendo,

outras aflorando feito elas.

Muitas as julgavam,

do alto do seu tribunal medieval,

davam pena máxima,

sem direito a defesa,

sem direito a perdão.

Duas meninas lindas,

se acasalando naquele vagão atolado

de gentes de todas galáxias.

Pareciam que não viam ninguém,

A solidão permitia fazer emergir

cada poro ardente, cada afago furtivo,

por demais amado, por demais rasgado das regras,

dos ritos,das formas de ser,

impostas goela abaixo.

Num dado momento, foram embora,

sumiram como de nunca tivessem lá estado.

Vi seu rastro rareando pelas escadas rolantes,

indo à cata da sua própria matriz,

talvez própria raiz, talvez próprio fruto.

Aquelas duas despertaram e cutucaram desejos muitos,

vadios, tantos, arredios.

Em mim, só um desejo saiu da toca.

Desejei que fossem felizes.

Nada mais que isso, nada mais mesmo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 21/02/2013
Reeditado em 22/02/2013
Código do texto: T4152589
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