Encontro Sonetado

Um dia a observar a idosa dama

Que atrás de minha casa “se escondia”

Notei que lá num canto, atrás da rama

A velha dama, sentada escrevia.

Aproximei-me, mas ela arredia,

Com voz meio subida perguntou:

“Quem és que vens tirar a calmaria

“Da velha que a pouco se sentou”?

Jamais presenciei tal reação

Uns olhos assustados eu senti

Mas para que eu lhe desse explicação

Com voz serena e bela respondi:

“Desculpe-me assustá-la, oh, senhora

“Mas eu notei ao longe que escrevias

“Escreves sobre o Amor e sua demora?

“Ah! Eu Admiro quem escreve poesias”

Mas seu olhar cerrou como uma cela

Sim, a mesma cela que a um preso é imposta.

Ah, Leitor! Puderas ver o olhar dela

Gritou-me bem assim como resposta:

“Não deves te orgulhar de meu estado

“Eu muito magoei quem não queria

“E por infelicidade do fado

“Louvores dei a quem não merecia.

“Nas tardes cálidas que passei fria

“Sequer flóreo sorriso tive ao lado

“Somente ouvi a voz do que dizia

“Um pranto doloroso e tão salgado.

“Mas sinto que tu amas jovem bela

“E isso se destaca em teu semblante

“Portanto eu te advirto fuja dela

“Da garra do Cupido, deus amante.

“O Amor é para os tolos, duvidoso,

“Por isso, não escrevas não insistas

“O mesmo Amor que é bom e generoso,

“Também é presunçoso, é egoísta”.

Ouvindo o que me disse a velha dama,

No intuito de tirar da sepultura

A voz do Amor, que é doce e nos derrama,

Respondo paciente à mesma altura:

“Entendo tua angústia, tens sofrido,

“Respeito-te honorável anciã

“Por ser o dia louco e tão comprido

“Não sei se sofrerei hoje ou amanhã

“Talvez não lute forte quanto possa

“Mas eu, do Amor, jamais desistirei

“Pois que o Amor é forte, não tem hora

“Pois que como agora jamais amei.

“Meu doce anjo espalha luz divina

“Amo suas mãos, a sua tão alva tez.

“A sua beleza me faz peregrina

“Em um mundo abstrato de um talvez.

“A vida me convida a estar presente

“Em cada gesto de sua claridade

“Por isso, mais que nunca, estou ciente

“Eu amarei por toda a eternidade.

“Que dizes?Ninguém dura a eternidade?

“Um dia eu morrerei, a vida é assim?

“Ah! Embora morra o corpo, é bem verdade,

“Jamais morrerá Amor dentro de mim”!

Shaiane Bandeira

SHAIANE DA SILVA BANDEIRA
Enviado por SHAIANE DA SILVA BANDEIRA em 11/02/2013
Código do texto: T4134993
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.