AO AMADO...
Ó Amado,
Eu sou a flor que morre ao anoitecer
Pois como o girassol busca a Luz
Assim te busco...
- Mas tu não estás...
Sou a água do regato,
Límpida e pura, que desemboca nos rios,
Para diluir-se no mar...
Não sou a mesma de antes
A dos dias que já foram
E não voltam mais...
Aquela que te esperava
Com longas tranças desfeitas
Cobrindo o seio intocado
À espera do teu beijo primeiro
E que desnudava a Alma para ti
Como a Lua branca e Pura se desnuda
Quando desponta no Céu...
Minhas esperanças tardias
São como gotas de orvalho
Tocadas suavemente por primeiros
Raios mornos – Luz da manhã... –
Que as faz morrer... Em vão!
E meus sonhos e anseios
São fugazes
Como selvagens pássaros migratórios
Que voam procurando sempre
As eternas primaveras
Das tardes quentes do sul
Mas não tem paradeiro...
Tornei-me eu espectro volátil
Voando desde sempre
Na direção do teu Amor...
E consumo-me nas Chamas Sagradas
Do Fogo que não se pode apagar!
E por isso os deuses me castigam
Porque achei Conhecimento e Amor
E bebi as chamas do Fogo Eterno;
Com isso,
Fizeram-me eles mirar-me no espelho da Vida
Para que eu antevisse
E tivesse a certeza de que os amanhãs
Jamais serão dias risonhos
Ou feitos de abraços com ternura...
Hoje, sou fustigada pelos Ventos
E meu corpo sangra, machucado,
Porque busquei o Fogo Sagrado
Que não é dado aos mortais!
(Sou eu quem corta as distâncias
Mas sem jamais, esperanças,
De achar o rumo, a direção,
Que me aproximaria de ti...)
Fui banida e castigada
E para sempre proibida
De entrar no Céu das Eternas Primaveras
Onde se encontram os casais
Que se amaram demais:
- Porque só eu, amei,
E não fui capaz
De despertar em ti amor por mim
Que se doasse
E a tudo superasse
E que durasse para sempre...
(O Inferno pertence
Aos que estão sós,
Mesmo tendo amado
Muito e errado
Porque amaram demais!...)
Fadada ao esquecimento,
Serei apenas Lamento
E não viverei para sempre
Jamais!...