Blindarei a angústia, calcinarei os olhos....
Blindarei a angústia, calcinarei os olhos
e tudo o que houver abaixo deles também será queimado
e o coração arrancado
e jogado aos cães para que não sirva para mais nada, exceto,
pulsar inerte e vermelho no chão do patio.
E ainda sim não doerá tanto quanto
os acoites de lembranças
compelidos pela mente, goela abaixo,
contornando os pulmões até acertar
o átrio esquerdo
com o frio de uma bala quente.
Blindarei lembranças de conversas
longas como a tarde e
agradáveis como a primavera,
que sopravam mornas
para dentro dos ouvidos
fantasiando coisas
incríveis demais
para esta vida.
Mas tudo o empurrava
ao contrario, e
ao contrario
também foram as suas paixões.
Sempre ao contrario,
pela contramão
e no fim
ninguém estava lá.
Sentiu que era tarde.
Sentiu vontade de chorar.
Mas interrompeu o pensamento...
já era a hora do chá.