Lá no Agosto dos campos
Na placidez da setentrional manhã adormecida,
lá, no lugar cavado em que a noite se definha,
nos olhos de preguiçosas alvoradas ...
Ai, nesse espaço crepusculino - na vertical agonia
dum traçado fino, fino, desenhado no tira-linhas
de anémicas horas -, reacendem-se gritantes,
cravos bravos da memória.
Cerram-se as persianas e as violáceas cortinas.
Embaciadas estão agora as vidraças. O filme passa.
Num palco, tal teatro, sem regra ou contraponto...
Amantes, refundem-se em delíquios,
na antecipação do toque e no almejo do encontro.
São tais meninos-pastores a pascentarem os sonhos.
Féis guardadores de rebanhos sem cabras nem ovelhas.
Habitam uma casa aberta, sem paredes nem telhas.
Deslizam em ancestral oferta, na albufeira da Vida,
onde se aprofunda, em louca correria as águas mais fugidias.
Confundem o fito e o infinito. Antecipam no gozo, o grito!
Lá no Agosto dos campos, contornam o imprevisto,
reduzem a luz do silêncio no esvaimento dos sentidos.
Vividos e pressentidos.
É manhã... quase dia! Num vale dulcíssimo de cristal,
resvalada a Lua das margens que a comprimia,
desfalece, silente.
Ao lado, de cansaço a noite perpétua já dormia.
Na placidez da boreal manhã adormecida,
a planície volta de novo ao burburinho da vida.