O POETA NÚ
Nú em pelo
Com a respiração pesada
após o gozo do desejo
O suor percorrendo os corpos
como gotas de orvalho
numa manhã de janeiro
Ainda assim, ela nunca me viu nú
Seus olhos suplicavam em silêncio
implorando pra que eu me despisse
Senti no fundo de meu coração
que ela realmente queria me conhecer
Confesso-me constrangido
Jogar as roupas num canto
enquanto nos perdemos
em movimentos e gemidos
é uma coisa.
Mas ela queria ler minhas poesias
Sinto-me verdadeiramente nú
somente quando escrevo
São os momentos em que
jogo fora todas os meus trapos,
máscaras e trajes falsificados
Quando escrevo,
sinto pelos dedos que estou
me expondo ao mundo,
o que realmente sou,
nada a ver com o que penso de mim,
e muito menos com os que outros
acham que eu sou
Não.
Nenhum olhar suplicante
partindo daquele corpo lindo
embalado num lençol branco
Nem os cabelos longos pretos suados
escondendo ligeiramente
aqueles olhos cor de mel
me deixarão nú
Cara leitora,
acabo de me despir
perante a ti
Recolha cada uma das palavras
e guarde com carinho.