Dormindo com meu amor

Acordei depois de dormir com meu amor,

uma noite comum sem qualquer recheio,

A própria natureza se fez despertador,

Chamou pra vida o sonolento sonhador,

Que dormiu com amor, a amada não veio...

Ele dorme comigo desde que vi aquele olhar,

Não sem antes, avacalhar todo meu sono;

traz ela dengosa, sutil, prometendo ficar,

Conjugando todos os modos o verbo amar,

Nessa hora sou príncipe que ascende ao trono...

Mas, só a solidão ao novo rei faz reverência,

Presa agonizante, se debatendo na teia;

Poesia até vem e oferece uma assistência,

Bem ordena o desfile da minha carência,

Atiçando a imaginação das carências alheias...

Cada dia o arco-íris do sonho desbota uma cor,

Esperança corre, e afoita tenta de novo tingir;

Suas tintas trazem certo anestésico pra dor,

E sigo, dormindo sempre com meu amor,

Mas se ela vier, nem vou querer dormir...