BLUES do CALIFA
aviso de passamento: minha alma se foi,
os anjos de Komodo agitam flâmulas de hélio
e das labaredas sólidas o palácio da Princesa de Gaza
é levantado das ruínas do meu coração,
aonde o lixo escroto das lágrimas que derramei
por fraquejo pusilânime
alimenta a sanha dos urubus
não mais aos domingos emprestarei a mediocridade
dos versos pernetas e capados,
e muito menos compareço de noite com o verbo pigarreante
de quem engasga com a cabeleira da alma,
pouco importa o quanto de curiango vai na razão errática,
cambaleio lógicas que babam
e meus segredos criminais estacionam balonices
grifando o céu de escândalos
por outro lado, é maravilhoso não mais escravo
das conveniências e do apuro,
nunca mais as facilidades da adulação,
apenas o frio do esquecimento
e a face carcomida pelo deboche,
diz que é papel de vítima, não é:
ninguém é vítima a não ser do crime capitulado,
o caso aqui é de saber morrer
porque no submundo o medíocre é pasto,
e nenhum gênio veio voando no tapete
quando o anjo cobriu de brasas as barracas dos mercadores
porque o encapuzado acendeu mil velas
p'ra cheirar o pó dos ossos dos antepassados que o tempo apagou,
e o vizir sabe do truque do califa
escondendo do sultão a dançarina
que lê no café o nome lúdico do amor
19/01/2013