Brisa
Eu estava atrás da porta entreaberta
e espiava a vida que acontecia lá fora;
Não a desejava, mas, admirava.
O importante era estar feliz do lado de dentro
e importante, também, era que do lado de fora,
todos estivessem felizes. E assim era.
Até que da tempestade que aconteceu na Zona Oeste,
restou um vento forte, que derrubou árvores,
fez voar pedras, levantou poeira, e foi ventando, ventando,
até chegar à Zona Norte.
Ali eu estava, atrás da porta, e espiava, e via o vento chegando,
e sentia dele o cheiro e o frescor.
Já nem tinha mais muita força o vento,
mas foi bastante para abrir a porta, atrás da qual eu estava.
Eu tentei mantê-la entreaberta, sem sucesso:
o ventou a escancarou, e adentrou meu espaço,
levantando tudo que estava ao meu redor.
Tudo que estava inerte no meu espaço, atrás da porta,
se movimentou, como se revivesse, embora nada estive morto.
Por ali, tudo estava acomodado, há tempos.
Tudo voou no meu espaço e depois se colocou no chão.
O vento, que, então, já era uma brisa,
encheu o meu pulmão de ar puro,
e eu respirei apressadamente,
como quem queria aproveitar aquele fôlego,
presumindo que, aos poucos, aquela brisa se desfaria,
e a porta voltaria a se fechar - ou quase - à minha frente.
Não. A brisa não se desfez, está comigo, me acompanha
e eu respiro melhor por causa dela.
Olho para o lado de fora, hoje, com a porta totalmente aberta, e,
tudo aquilo que eu admirava antes, hoje eu desejo e vivo.
Amo você, meu amor, minha brisa!