rosa de cristal
rosa gélida de inverno
rosa crisálida da ilusão
rosa que superou o outono
rosa embrião da persuasão
quando ninguém mais a quer
e todos parecem contemplá-la
(mas a temem e amam)
tanto a querem
tanto a rejeitam
e regurgitam
e cortejam
pois a impassibilidade repele e atrai
ó rosa de cristal
que, terna, revela-se amada
que, obstinada, apresenta-se fria
que, dualística, é frágil, mas indomada
intransigente em solo frágil
te desvelas alma incisiva
daí tua real fraqueza
a debilidade é tua fortaleza
rosa que manipula o frio
eis tuas pétalas retesadas
álgidas do corrupto meio
que se estilhaçam na incidência
resolutas, não se curvam ao vento
antes, despedaçam-se com veemência
(ou cai ou resiste)
não aparenta fragilidade
nem temor
nem instabilidade
mas chora
e ri
e lamenta
e estremece
sem caule
sem folha
sem rosa
sem nada
rosa-cristal, que se aduz fria, mas é adorada
quem a quer
a quer
e mais nada