rosa de cristal

rosa gélida de inverno

rosa crisálida da ilusão

rosa que superou o outono

rosa embrião da persuasão

quando ninguém mais a quer

e todos parecem contemplá-la

(mas a temem e amam)

tanto a querem

tanto a rejeitam

e regurgitam

e cortejam

pois a impassibilidade repele e atrai

ó rosa de cristal

que, terna, revela-se amada

que, obstinada, apresenta-se fria

que, dualística, é frágil, mas indomada

intransigente em solo frágil

te desvelas alma incisiva

daí tua real fraqueza

a debilidade é tua fortaleza

rosa que manipula o frio

eis tuas pétalas retesadas

álgidas do corrupto meio

que se estilhaçam na incidência

resolutas, não se curvam ao vento

antes, despedaçam-se com veemência

(ou cai ou resiste)

não aparenta fragilidade

nem temor

nem instabilidade

mas chora

e ri

e lamenta

e estremece

sem caule

sem folha

sem rosa

sem nada

rosa-cristal, que se aduz fria, mas é adorada

quem a quer

a quer

e mais nada

Vitor Costa
Enviado por Vitor Costa em 19/01/2013
Reeditado em 04/03/2013
Código do texto: T4093842
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