Navegaste o pranto dos meus olhos …
Embocaste pela boca aberta do meu pranto,
num ponto preciso do estofo da maré. Marinheiro
reconhecido na arte de bolinar, navegaste o lamento
pungente dos meus olhos e neles colocaste uma a uma
Primulas, Violas, Begónias, num plantio desmedido
de boninas, de flores, na arte de replantar “Amores!”.
Lavas de lume emergiam da crosta incandescente.
Não temeste. Falavam de um tempo em que a Alma
em chaga, sem que disso tivesse dado alerta a meteorologia,
entrara abruptamente em erupção.
Destemido Marinheiro, buscaste na cana do leme, direcção.
Acreditaste que lá em baixo, na sua porta, o metal sulcaria
o pranto em mansas vagas derivadas. Aplanadas…
À carlinga fixaste o mastro onde içaste a bandeira da Paz.
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É manhã!
A luz escorre agora. É leite derramado na Noite que morre.
Hoje eu sei que o que escrevo não mais é que o acordar
de um Sonho prematuramente adormecido no reponto da maré…
Fecho os olhos! Sob a claridade pálida da fugidia Lua,
a linfa ondula. Sobre a areia as gaivotas desenham-se
em orgânicas danças. Em espasmos, atingem o orgasmo.
De braços abertos encenam cânticos nupciais.
Tudo é bucólico, tudo é simbólico, no reino dos animais!
Navegaste o pranto dos meus olhos …