A viola e o cangaceiro
 
A noite estava escura e deserta,
A lua engolida na imensidão,
Ouvi passos de cavalos, e alerta,
Fiquei escondido, em prontidão.
Estava no covil dos cangaceiros,
Desarmado e não queria confusão,
Eu era um simples forasteiro,
E figura singular no meu sertão...
 
Eles eram valentes bandoleiros,
Que levavam a desordem onde chegavam,
Diziam-se que eram justiceiros,
Mas usavam as pistolas e matavam.
Faziam por maldade ou por dinheiro,
Espalhando o terror por onde iam...
Assim era o cangaço e o cangaceiro,
Implantavam o terror, depois partiam...
 
Eu era um poeta e cancioneiro
E pregava a paz no meu caminho.
Era da viola, o violeiro,
Falava de amor e de carinho.
E aquele amor que espalhava,
Em Ritinha, linda, fez seu ninho...
Mas o seu pai, o João Armeiro,
Era matador e pistoleiro...
 
Depois da Ritinha eu ter amado,
E em seu regaço, ter dormido,
Estava agora com medo, apavorado,
Por muito abusado, eu ter sido...
Após a tormenta ter passado,
Com as pernas tremendo, em calafrio,
Vi o João, já longe, afastado,
Ir embora, bem além do rio...
 
Agora, pela Ritinha apaixonado,
Vou pegar minha viola e segui-la,
Farei do João Armeiro o meu sogro,
E assim seguirei de vila em vila...
Quem sabe, um milagre eu faça,
E transforme um vilão em violeiro...
Ou será que o cangaço é que transforme,
Um pacato violeiro, em cangaceiro?