À La Bukowski
E escreve silencioso
palavras de verão
que ardem mais que o duro sol do meio-dia
que queimam feridas tratadas com sal e limão
e acende um cigarro que trás marcas de batom vermelho.
Batom de uma vagabunda
que roubou-lhe o sono por noites infindáveis
e não se satisfez em somente vê-lo derrotado.
Teve de chuta-lo.
E bebeu um trago daquela velha garrafa
guardada na segunda gaveta da escrivaninha
onde costumava guardar todas as suas coisas boas
quando ainda fazia uso delas.
Lenços e fotos e brinquedos da infância e cartas de namoradas.
E desejou secretamente que a vadia que o golpeou
morresse sufocada
nos próprios beijos de seu amante qualquer.
Vomitou no tapete da sala
e deixou que seus miolos rolassem pra debaixo do sofá
com seus pulmões, seu almoço e seu coração!
E nunca sentiu raiva tão voraz inflamar no peito
e nunca teve tanta tinta para escrever
e pintar a casa
como quando rasgou os pulsos
e ouvi um som distante
achou que fosse a morte com passos leves
mas ficaria mais feliz se fosse
a garota do correio.