À La Bukowski

E escreve silencioso

palavras de verão

que ardem mais que o duro sol do meio-dia

que queimam feridas tratadas com sal e limão

e acende um cigarro que trás marcas de batom vermelho.

Batom de uma vagabunda

que roubou-lhe o sono por noites infindáveis

e não se satisfez em somente vê-lo derrotado.

Teve de chuta-lo.

E bebeu um trago daquela velha garrafa

guardada na segunda gaveta da escrivaninha

onde costumava guardar todas as suas coisas boas

quando ainda fazia uso delas.

Lenços e fotos e brinquedos da infância e cartas de namoradas.

E desejou secretamente que a vadia que o golpeou

morresse sufocada

nos próprios beijos de seu amante qualquer.

Vomitou no tapete da sala

e deixou que seus miolos rolassem pra debaixo do sofá

com seus pulmões, seu almoço e seu coração!

E nunca sentiu raiva tão voraz inflamar no peito

e nunca teve tanta tinta para escrever

e pintar a casa

como quando rasgou os pulsos

e ouvi um som distante

achou que fosse a morte com passos leves

mas ficaria mais feliz se fosse

a garota do correio.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 12/01/2013
Reeditado em 12/01/2013
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