Poema de Amor

Todo poeta, ao menos uma vez na vida, escreve um poema de amor!

Para uns o “amor é fogo que arde sem se ver [1]”,

Para outros é “mortal e navegável [2]”.

São conjuntos de adjetivos, são centenas de verbos similares!

Vãs tentativas para definir tal sentimento!

Afinal, “Não pode Amor por mais que as falas mude

exprimir quanto pesa ou quanto mede [3]”.

Mas há coisas com as quais todo poeta concorda!

Que o amor é dor, “pois só de te sonhar me encho de aflição [4]”.

Mas também é cura, visto “que eu de amor apenas ressuscitaria [5]”.

É sútil e mordaz, “uma teia que se desfia pouco a pouco [6]”!

Também se faz de labirinto ao mesmo tempo em que como luz guia,

Visto que “quanto mais te perco mais te encontro [7]”.

O amor é luta e sofrimento, “Mar e montes teus beijos, meu amor!... [8]”

É também sentimento de criança, e talvez por isso,

“como um adolescente tropeço de ternura por ti [9]”.

E para a felicidade de quem escreve, o amor é prosa!

Mas não esqueça: “as palavras estão gastas [10]”.

O amor é também fixação, que diz para si mesmo:

“E hei-de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz [11]”!

É sentimento perpétuo e crescente,

E “não finda com o próprio amor o amor do teu encanto [12]”.

Mas às vezes é tão efêmero e lancinante,

“Tão doce e tão breve ilusão [13]”.

É pedido, é medo da solidão!

“Dá-me a tua mão, companheira,

até o Abismo da Ternura Derradeira [14]”.

Muitas vezes, incompreendido! Largado! Sofrido!

Pois “Um grande amor só se avalia bem

Depois de se perder [15]”.

Exagero! É medo de não ser suficiente!

É doce! É sorriso! É manhã com sereno. É vento frio em noite de verão.

Talvez por isso, todo poeta, ao menos uma vez na vida, escreve um poema de amor!

[1] Luís de Camões

[2] Eugénio de Andrade - O Amor

[3] António Gedeão - Soneto

[4] Al Berto – Ofício de Amar

[5] Luiza Neto Jorge – Desinferno II

[6] Casimiro de Brito

[7] Manuel Alegre – Teoria do Amor

[8] Fernando Echavarría – Amor a Vista

[9] Alexandre O’Neill – Um Adeus Português

[10] Eugénio de Andrade - Adeus

[11] Raul de Carvalho – Coração Sem Imagens

[12] Jorge de Sena

[13] Carlos Queiroz – Canção Grata

[14] José Gomes Ferreira – Mais outra Canção para a Inventada

[15] António Botto

(12/01/2012)