O PÁSSARO DA SEPARAÇÃO
Quando teus olhos de colírios
Passaram a ser o meu velório
Quando minha dor na tua mão fria não escondia
E tudo nesse viveiro passara a ser público e notório
E meu sobrenome esboroava-se em fracasso junto ao teu
Ateu sem penitencia eu jejuava no espírito
Era apenas uma sentença leve no cartório
A separação como uma brisa da manhã
Se esfarelava diante do crepitar insolente
E escaldante do sol de verão
Como uma procissão de lágrimas
Meu mundo escorria na sofreguidão
Sem você perdi parte integrante do que sou
Dos meus olhos resvalava todo teu mundo
Quando meu eco no teu ego sumia
Nada em mim restou
Não sorrio porque não vivo
Não implodo porque não sei
É minha lei chorar agora sou crivo
São fontes cristalinas filtros de meu sofrer
Diante da seca que castiga meu árido sertão
Pontes estradas e riachos doces na lembrança
me levam no pensamento até você
A garça esgarça na graça azul do vento
O coração resseca de murmúrios
Não há esperança neste adeus sem sentimento
No lenço um pássaro sem céu chora preso na mão
Enredilhado na pluma enamorada da paixão
Agora se debate na carne imerge-se
E se abisma no chão
De tanto que já sofreu
Soçobram resquícios do sol na preamar
Rastros de sombras em meus vagos delírios
Tudo se perdeu há sombras no meu céu
Sem a lua escureço
Emudeço
Mudaram-se os endereços
É noite sou ocaso escureço
Sou morcego na boemia
Sou verso sem reverso
Letra sem poesia...