Despontámos, renascidos da Chuva diluviana
Despontámos, renascidos da Chuva diluviana,
provinda do fundo profundo dos Oceanos de bruma,
que nos empapou os papiros de memórias.
Despertámos ungidos dentro de um manto brocado
de águas cristalizadas. (re)Tecido por milhões
de anos luz de espera, na poupa d’alvas espumas,
incendiadas na vertigem da fogueira das horas.
Emudecemos, suspensos no espanto e na sabedoria
dos corpos e das Almas, ágeis, voláteis no acerto
e no compasso. Tecelões do barro, no tecer do sacro
linho sobre o fuso de seculares rocas.
Ainda a medo, acasalámos os dedos ... entrecruzados,
na raiz do vórtice em que o grito se solta livre da garganta;
Em que de nós, liberto, é Eco. Se enfeita em galerias de
delicado de Abetos, sons das florestas, chilreios de pássaros,
correrias desabridas de crianças. Na esperança e na certeza
de sermos uma só peça, de um puzzle em reconstrução.
Refulgimos por fim líquidos, dentro das seivas e da
salivas da carne das nossas bocas e nas veias avermelhadas
dos astros, semeados no ocaso, e ali no verde profundo
dos lagos do meu olhar, pelo negro dos teus olhos de chumbo.
Amamo-nos agora, num contínuo descontinuado,
sem princípio nem fim, na candura do pecado,
sem atender à hora, do nascer ao pôr da aurora ...
Amamo-nos assim, como dois loucos, diluídos
na geometria reconhecida da matriz dos nossos corpos.