Despontámos, renascidos da Chuva diluviana

Despontámos, renascidos da Chuva diluviana,

provinda do fundo profundo dos Oceanos de bruma,

que nos empapou os papiros de memórias.

Despertámos ungidos dentro de um manto brocado

de águas cristalizadas. (re)Tecido por milhões

de anos luz de espera, na poupa d’alvas espumas,

incendiadas na vertigem da fogueira das horas.

Emudecemos, suspensos no espanto e na sabedoria

dos corpos e das Almas, ágeis, voláteis no acerto

e no compasso. Tecelões do barro, no tecer do sacro

linho sobre o fuso de seculares rocas.

Ainda a medo, acasalámos os dedos ... entrecruzados,

na raiz do vórtice em que o grito se solta livre da garganta;

Em que de nós, liberto, é Eco. Se enfeita em galerias de

delicado de Abetos, sons das florestas, chilreios de pássaros,

correrias desabridas de crianças. Na esperança e na certeza

de sermos uma só peça, de um puzzle em reconstrução.

Refulgimos por fim líquidos, dentro das seivas e da

salivas da carne das nossas bocas e nas veias avermelhadas

dos astros, semeados no ocaso, e ali no verde profundo

dos lagos do meu olhar, pelo negro dos teus olhos de chumbo.

Amamo-nos agora, num contínuo descontinuado,

sem princípio nem fim, na candura do pecado,

sem atender à hora, do nascer ao pôr da aurora ...

Amamo-nos assim, como dois loucos, diluídos

na geometria reconhecida da matriz dos nossos corpos.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 09/03/2007
Código do texto: T406761
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