Gemido de Violino

Uma lágrima se solta ... sem ventos, sem

brisas ... se volatiliza num gemido de violino!

Dormes. Por dentro da luz ténue de silêncios

finos, silenciados na concha tumular que cobre

todas as pedras desalinhadas da calçada.

Hoje caminho na Avenida. Piso a passos precisos

os trilhos por onde tantas vezes viajaste

sózinho dentro de mim. E sozinho em ti,

perdido num labirinto. A nebulosa esmaecida

teima em perpetuar-se à minha frente.

Persistente, a lágrima cristalizada se solta,

rola extemporânea. Avança, morde e beija a boca.

Tem o sabor salgado da Saudade e, contudo,

liberta, traz-me de regresso à realidade.

Refulgentes, os raios iluminados da manhã,

traçam nos paralelepípedos novos desenhos

constelados. Das ruas pardacentas,

aos poucos, a espasmos, a Primavera brota.

Estrangula o vazio e a melancolia nostálgica.

Emerge em sons. Eternas sintonias Genésicas.

Na igreja em frente, toca o sino.

As ruas recobrem-se, serenas, com as cores

brancas do seu manto Divino.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 09/03/2007
Código do texto: T406753
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