* Só-letrando o amor ...
"...Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz..."
(Trecho de "Tabacaria", F. Pessoa)
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Só-letrando o Amor
Meu enlevo de primeiro amor
Abrupto, incidental carinho
Não, não foi como uma flor
Botão decepado... o espinho...
Crivado fundo n'alma ficou
Tão antiga ferida latejante
Do coração paredes trincou
Traçou um destino errante...
O segundo, também primeiro
Eu e a flor, tímidos, silentes
Metafísicos tolos e verdadeiros
Faltou ousadia, covardemente...
Faltou ardor, lava nos gestos
Palavras cálidas, amordaçadas
Como se prestes a um incesto
Tantas as ânsias esfaceladas...
Assim vago pelas estradas
E diante d'alguma centelha
De tanta lenha lacrimada
Acende-se fugaz fogueira...
Seria destino ou exceção
A ternura assim negada
Como se fosse expiação
Mãos de afeto algemadas...
Tudo seria e foi-se, por um triz...
Torpor, espasmo, langor, aflição...
E eu? Eu só queria ser feliz...
Amor, perplexa inquietação...
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Com muito talento e sensibilidade, a poetisa BETH JOY montou um poetrix, extraindo o "sumo" do poema. Sinto-me honrado e agradecido por tão primorosa construção poética!
D'alguma centelha
fugaz fogueira;
... mãos de afeto algemadas!
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