Quando os poros são tapados com cimento.
Saudade esgarça a alma, esfacela os ossos,
faz o tempo se rasgar todo.
Saudade tem gosto esquisito, cheira mofo,
ao invés de partir de vez, fica de vez.
Saudade não se arremata, não sem destila, não se doma,
fica do tamanho do mundo na hora de engolir,
entala nas nossas veias não deixando nenhum sangue passar.
Saudade tapa os poros com cimento pra não deixar mais suar,
pra não deixar mais sorrir, não deixar mais parir,
é atroz como os ventos traiçoeiros da dor,
é feroz como as pedras do sapato que nunca se alforriam.
Saudade não dá desculpa, não invoca o perdão,
se disfarça de ungüento só pra enganar Deus,
se diz presente só não esquecermos que nunca ficará ausente,
nunca mesmo.
Saudade não se cansa, nem erra nenhum nota, nenhum tom,
vai golpeando o chão em que pisaremos com ferro em brasa,
enche de caco de vidros nossos olhos só pra impedir de chorar,
faz as nossas fronhas virarem cactos sem a menor pena,
sem a menor pena.
Saudade tem o néctar dos infernos atracado à sua voz,
deixa o universo imberbe, faz a areia do deserto menstruar,
nada é mais adverso do que suas amarras,
nada é mais pleno do seu gozo sem perdão.
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