BAGDÁ (“O homem é o único culpado da sua própria perdição”)
E num campo de guerra inóspito.
Era assim que as bombas assolavam incessantemente, incansavelmente a terra já tão devastada de outras tantas batalhas que já se fizeram...
Ataques atrozes, vozes ferozes.
Sirenas sirenes rasgavam a noite.
Tudo era noite.
Dia debaixo dos escombros dos meus ombros, tal qual um atlas errantes me levava sem rumo.
Sob os pesos de meus pecados, sob os pesos de mil pecados, sobe os pesos da inflação inflamada do meu coração infante.
Só me restava lutar.
Jaziam ao meu lado tantos outros companheiros de campanhas...
Resistia – me lembro – com uma força titânica, divina, monstruosamente mítica!
Uma força que não era minha.
Exércitos, fileiras, esquadrões, legiões...
Até que tudo não passava senão de um deserto com dunas e miragens translúcidas, inertes ao etéreo campo da loucura da fome e da sede de amor.
Sua pele queimado pelo sol inesgotável do oriente.
Seu corpo era meu oásis, minha fortaleza e santuário.
Mil e uma noites contadas nos contos de sarracenos e beduínos errantes.
Joia do Eufrates e musa de todos os faraós, olhos que petrificavam a alma e aprisionava numa liberdade formidável.
Não existia tempo quando se olhava para seus olhos de princesa.
Califas, ladrões, sábios, sheikes, homens não passavam de escravos em sua doce e imponente presença
AS SALAM ALAIKUM!!!
Tudo isso se passava diante de mim como visões da minha vida, mas não tinha vivido essas visões...
A loucura me espreitava com seus olhos ávidos de paixão tórrida e vil.
Então compreendi que esta terra assolada por guerras e catástrofes, era tão somente meu coração.
E os exércitos, fileiras, esquadrões e legiões, a invasão que você fez nele sem dó nem piedade...
Sua Cimitarra afiada estraçalha minha vida!!! (minhas vidas na realidade, pois compreendo perto da morte que antes de tudo te conheço)
E no último instante de lucidez que me resta, remeto-me ao trecho que meu mestre islâmico ensinou-me a decorar : “O homem é o único culpado da sua própria perdição”