Síndrome do Pensamento Acelerado

Agora que tenho a síndrome do pensamento acelerado

cabe um pouco de reflexão sobre os torvelinhos,

o pregresso tão presente no arvoredo que fenece em pé.

Os teus amigos não são os meus amigos

e os meus amigos não são os teus amigos;

aquela ameixeira não produz o fruto para nós:

nós pegávamos do mesmo pé;

os nossos caminhos são diferentes

e os bares que frequentas possuem pessoas diferentes,

bebidas diferentes,

músicas diferentes,

onde os teus pensamentos buscam,

no desespero da tua alma, aplacar a amargura causada pela mágoa;

e o teu caminhar tornou-se cético;

deita-te com pessoas estranhas procurando a paixão,

a vida morrida no adeus, meu amor;

mas tudo é insípido, falta-te algo,

algo perdido dentro de nós com a ignorância de nossos atos.

O teu corpo, violado, mesmo rodeado

por pessoas sorridentes e assuntos diversos,

permanece, não diferente do meu, solitário:

como se as nossas almas recusassem essa sânie

que nos faz apodrecer.

Olhas os homens com incredulidade

e as tuas esperanças fenecem a cada crepúsculo.

O arrebol não traz luz para o coração

e a falta de senso o impossibilita perdoar.

Sofre criança!

Criança do nosso sangue.

Sofre sem saber.

A sinérese da nossa amizade,

lembras?

Sempre fora perfeita.

Mas, que merda foi essa que fizemos?

Por que invetamos outras normas?

Estava tudo tão perfeito no meio das imperfeições

que não vimos o penhasco e o predador de almas.

Ai, ai, ai, ai, ai!...

Grita o coração

numa sinfonia angustiante

que faz inveja ao rouxinol.

Abre a janela, peço-te, por favor.

E veja as gamelas:

Tem alguma graça agora?

Eram melhores, confesse, as flores do brejo,

quando caminhávamos de chinelo remendado a prego,

roupas velhas e nenhum tostão no bolso:

rosas, brancas, azuis, roxas, amarelas...

Que todas as flores do mundo

e o conhecimento que adquiriste em minha ausência.

Eram melhores as trovas desajustadas,

as piadas mal contadas,

a omelete comida na rua com sabor de torta de baicon;

as baboseiras e o inverno sem vestimenta,

onde passávamos amplexados tendo no peito o amor cândido,

valiam mais que todo o glamour,

que a cerveja artesanal,

a comida estrangeira em bares chiques e amigos diferentes;

que o parceiro poliglota,

amizades demasiadas nos momentos hostis;

porque ficam distantes do teu coração;

mais que os dançarinos de forró...

Sofro as minhas convulsões sozinho,

acordo no chão e quando abro os olhos

vejo-me ensanguentado,

o corpo moído pelas fortes contrações

e o meu pensamento alcança um rostinho angelical,

uns olhinhos cândidos que dizem "você é o meu herói, levanta",

o carinho suave das tuas mãos macias

e os olhares mais diletos que diziam,

mesmo ébria de caipirinha de carambola com vodk:

"Eu te amo! Mesmo bêbada eu te amo."

A saudade é um doce veneno para os loucos:

paralisa-nos no tempo,

entorpecendo a nossa inteligência.

Saia de tardinha e ouça os cantos,

senta-te novamente no tronco

para observar o chacoalhar das folhas,

os carcarás flanando juntamente com as andorinhas...

Aí abras aquele sorriso adolescente

e me digas com toda a sinceridade:

"Que lindo!"

Porque a Graça passou ao longe,

acenou com a mão num gesto de escárnio

e foi embora, desdenhando-nos com os ombros.

Chega!

A canção que dizia "eu te amo" acabou

e eu não gosto desta outra.

13/12/2012 00h15

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 19/12/2012
Reeditado em 21/12/2012
Código do texto: T4044077
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