Poética do devotado

Ficamos como dois rios:

eu, águas turvas,

ele, águas profundas

nas quais o fundo não se viu!

Essa correnteza ficou muda

e muda tanto

com o branco

da espuma.

Será que vou te encontrar

quando a água correr pro mar

ou quando eu for virar nas curvas?

É abismo de águas fundas

essa falta tua,

mas sabe que me serve de metáforas (para teu corpo)

o rio e seus afluentes

tão indecentes

que fazem acordo

contra minha sanidade, mas a favor da saudade

ficar presa em qualquer margem

secando aos poucos...

Nas tuas bordas me deixas muito solta,

com espaço suficiente para afogamento

dizem que quem poetiza é gente doida,

mas todo gênio tem sua parte louca,

e essa parte é toda sentimento.

Percorro tantos rios

de águas igualmente fundas,

mas gosto de descer na margem até a tua nuca

e com os remos vou aos extremos

em um só segundo;

e percorro tua coluna

como se fosse a única fortuna

do mundo.

SkyFolks
Enviado por SkyFolks em 12/12/2012
Reeditado em 18/05/2013
Código do texto: T4032632
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