Poética do devotado
Ficamos como dois rios:
eu, águas turvas,
ele, águas profundas
nas quais o fundo não se viu!
Essa correnteza ficou muda
e muda tanto
com o branco
da espuma.
Será que vou te encontrar
quando a água correr pro mar
ou quando eu for virar nas curvas?
É abismo de águas fundas
essa falta tua,
mas sabe que me serve de metáforas (para teu corpo)
o rio e seus afluentes
tão indecentes
que fazem acordo
contra minha sanidade, mas a favor da saudade
ficar presa em qualquer margem
secando aos poucos...
Nas tuas bordas me deixas muito solta,
com espaço suficiente para afogamento
dizem que quem poetiza é gente doida,
mas todo gênio tem sua parte louca,
e essa parte é toda sentimento.
Percorro tantos rios
de águas igualmente fundas,
mas gosto de descer na margem até a tua nuca
e com os remos vou aos extremos
em um só segundo;
e percorro tua coluna
como se fosse a única fortuna
do mundo.