AMANTES ESQUECIDOS

Eram duas da tarde

E as estranhas criaturas

Maltrapilhas e sujas

Trocavam beijos

À sombra rala de uma árvore

No gramado do parque

Da TV Brasília

Não eram jovens

Nem belas

Mas estranhamente ternas

Sensuais

Riam da miséria

Que vestia suas vidas

Cultivando amor

Em doces beijos

E num longo abraço

Alheios a tudo.

Eram homem e mulher

Maduros, vividos

Malcheirosos e bêbedos

Marginais brasileiros

Tangidos, vencidos

Na cidade grande

Sem qualquer perspectiva

Testemunhos próximos

Da cena de amor

Seus parcos pertences

Dois sacos encardidos

O imundo cobertor

E a mochila recheada

Com restos de piedade alheia.

A caminho do trabalho

Segui indeciso

Mentalizando a cena.

Até hoje não sei

Se compaixão ou inveja

Foi meu sentimento

Para aqueles amantes

Esquecidos do mundo

No gramado do parque

Da TV Brasília.