Tu não me queres

Mais uma vez, apaixonei-me,

Como um vulcão que se prepara para liberar a lava

Há tempos adormecida na escuridão.

O coração saltitou no peito como se nunca tivesse batido.

Uma ou duas conversas, e o estrago feito,

E o desejo despertado,

Mar em tormenta.

Entreguei-me ao sonho de amar-lhe

E por ti ser amada.

Vacilei nos passos ao ver-lhe diante de mim.

Feito criança, quis teu carinho, quis mais.

Quis tua boca delicada, preenchida de sorriso cativante.

Encantei-me com teu corpo magro, rijo, moreno...

Com teus cabelos curtos e negros...

Com tua simplicidade.

Que doçura em teu falar,

Que afabilidade em teu ser

Que inteligência!

Os olhos amendoados,

Uma tristeza leve na face

A humildade e a polidez brilharam-lhe no semblante.

Oh, meu doce algoz!

Destruiu-me as defesas.

Tuas palavras preencheram-me,

Desejei que elas se transformassem em sussurro...

Que farei?

Tu não me queres,

Não lhe despertei furor

Nem encantamento.

Queria correr ao teu encontro,

E dizer-lhe tudo que me causou.

Queria lançar meu olhar enlouquecido

Para cruzar com o teu e, assim,

Confessar minha tormenta.

Mas não posso.

Tu não me queres.

Meu poema é tua sentença.

Amordaçar-lhe-ei em dolorosos versos.

Sufocarei o encantamento,

Socarei o peito...

Até que o coração apenas vibre,

Vagarosamente.

Dir-lhe-ei adeus.

Não rastejarei por teu amor,

Não lhe tentarei conquistar

Não lhe beijarei.

Meus ferozes sentimentos morrerão mais uma vez,

E parte de mim também morrerá.

Oh, meu doce amado!

Meu poema é tua jazida, é tua lápide.

Meu sofrimento é tua oração.

Tu não me queres,

E o que me resta fazer,

Senão recorrer a Ades?