CANTO DOS AFETOS

(para Miguel Russowsky e os seus 82 anos)

Dize-me, ó amada indiferente,

quantas vezes tua voz foi triste, silente?

Dize-me, ó olhos tristes,

quantas vezes morre a solidão ardente?

Ó vento, dize ao ouvido por que necessitam

tantas traduções os afetos que me faltam.

Dize a mim, amigo tão amado,

se em alguma vez eu te soube ausente?

Dize-me, ó amor,

(que sabes do sabor dos sonhos)

quantas vezes libertaste o Cristo

dentro de mim.

Dize-me, ó inspiração fugidia,

que te alheias de mim no pobre verso.

E assim, enfim, amada, que és pura alegria,

não fujas também de mim!

Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 80.