A Boêmia
Vinte anos! Dourei-os nos lupanares,
Sorvendo aos lábios impuros a decepção,
Viajei para alguns pitorescos lugares,
Para perder as cicatrizes do meu coração!
Levei ao leito de infames impurezas,
Róseas visões de envelhecidos amores,
Vi nas virgens suas efêmeras belezas,
A murcharem como as colhidas flores!
Pobre de mim, que sequer sabia,
Que a febre recatada neste leve rubor
Era a esperança que enfim morria,
Quando ao seio róseo devotei o amor!
Vinte anos! Vivi-os sequer saber,
Que teu mimoso seio não bate por mim,
Tanta tristeza fizera a alma sofrer,
Ao perceber esse teu aroma de jasmim
Sequer me deixaste um beijo,
Um sorriso para guardá-lo de lembrança,
Mas ao álcool devotei o desejo
De fitar-te a face ingênua como criança!
Quantas noites essa embriaguez,
Ungiu o espírito em delicada desolação,
Incutindo no espírito a morbidez
Das noites pálidas pela funesta solidão!
Talvez se tu visses meu olhar morto,
A cachaça luzir pelos gritos de insensatez,
Ver-me-ia bailando igual um torto,
Devotando a ti, o suspirar com lucidez!
Mas sequer tu sabes da existência
Das lágrimas que derramei pelos bordéis,
Sabe apenas de minha indecência,
De comprar as paixões por míseros réis
Contudo, sou apenas um ermitão,
Que leva na lira apenas a nota de alegria
Quando te amei toda minha paixão
Tornou-se verso da melancólica boemia!