A Boêmia

Vinte anos! Dourei-os nos lupanares,

Sorvendo aos lábios impuros a decepção,

Viajei para alguns pitorescos lugares,

Para perder as cicatrizes do meu coração!

Levei ao leito de infames impurezas,

Róseas visões de envelhecidos amores,

Vi nas virgens suas efêmeras belezas,

A murcharem como as colhidas flores!

Pobre de mim, que sequer sabia,

Que a febre recatada neste leve rubor

Era a esperança que enfim morria,

Quando ao seio róseo devotei o amor!

Vinte anos! Vivi-os sequer saber,

Que teu mimoso seio não bate por mim,

Tanta tristeza fizera a alma sofrer,

Ao perceber esse teu aroma de jasmim

Sequer me deixaste um beijo,

Um sorriso para guardá-lo de lembrança,

Mas ao álcool devotei o desejo

De fitar-te a face ingênua como criança!

Quantas noites essa embriaguez,

Ungiu o espírito em delicada desolação,

Incutindo no espírito a morbidez

Das noites pálidas pela funesta solidão!

Talvez se tu visses meu olhar morto,

A cachaça luzir pelos gritos de insensatez,

Ver-me-ia bailando igual um torto,

Devotando a ti, o suspirar com lucidez!

Mas sequer tu sabes da existência

Das lágrimas que derramei pelos bordéis,

Sabe apenas de minha indecência,

De comprar as paixões por míseros réis

Contudo, sou apenas um ermitão,

Que leva na lira apenas a nota de alegria

Quando te amei toda minha paixão

Tornou-se verso da melancólica boemia!

opoetakurita
Enviado por opoetakurita em 28/11/2012
Código do texto: T4009863
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