QUINTO ELEMENTO
água
teus rios banhavam-me
teus risos escorriam
das bocas
que me untavam
buscando ávidos
os seixos do meu corpo
jazia em vida
sobre o azul da piscina
sob o azul do primeiro
dia de fevereiro
tarde... cedo... sina
lavava em suor
gestos e cabelos
mergulhava fundo
em outro mundo
líquido, certo
úmido e perfeito
ar
o teu inconfundível cheiro
amazona
aspirado, tragado
sobre o travesseiro
hálito sopro de vida
o vento vindo
de alguma parte
estado d’arte
arrepiando os pelos
enquanto adestrávamos
as nuvens sobre o peito
um vácuo incerto invadia
como um beijo
no teu sexo
terra
o nosso chão
era de espuma
redondo com as tuas luas
morenas
doce arena
onde sucumbem touros
em duplo-teto
multiplicando os corpos
domados
em leves penas
solo sagrado
onde as vestes
em cores rubras
e negro xadrez
quadriculam sonhos
tangem as horas burras
eternizando a tez
terra-mãe menina
curvas, bunda
seios e vagina
fertilidade
dádiva divina
acolhendo o sêmen
árvore do bem e do mal
fogo
ali
onde o corpo incendeia
a chama visível
se ateia
e queima e arde
é febre e delírio
o impossível frio
a explosão atônita
a um centímetro do infinito
nos limites do possível
o gozo contrito
o prazer do outro
no seu grito
um queimar constante
fusões a cada instante
explosões de ogivas
em teus silos
luzes e meias
nos mamilos
clarões fazendo
do teu breu
o mais bonito
elemento cinco
a dança de shiva
a dança do ventre
e dos dervixes
a dança da chuva
a dança dos corpos
a dança dos olhos
a dança da língua
a fala que cala
a liberdade do gemido
tara, tantra, tarot,
o cheiro, o tato, o sabor
o último grito
o primeiro jorro
o mais novo gozo
o choro contrito
o medo do outro
o beijo em tudo
o tempo, o espaço
o único abraço
a soma, o soma
o coma etérico
elétrico, esotérico
infinito
meio nirvana
todo niana
alfa, anima
magia
em tua cama.
10/2/99, 22h15