A dor que dói mais.
Não é a dor do medo,
porque se dissipa rápido.
Nem é a dor da solidão,
já que logo vira pó.
Também não é a dor da raiva,
porque se perde no tempo.
Não é a dor da perda,
essa se tira de letra.
Nem é a dor da traição,
porque se esquece num trotar qualquer.
Não é a dor do gozo perdido,
porque esse fica esquecido num canto qualquer.
A dor que dói mais não tem alforria,
não tem voz tardia,
não tem negociação vil.
A dor que dói mais é ferina,
áspera, entala na garganta,
esbarra na alma por todos lados.
A dor que dói mais pulsa com vigor da primeira ereção,
se entala no sangue e nunca mais se vai,
nunca mais.
Ela se agiganta só pra deixar Deus ilhado,
ela chicoteia os ventos, estraçalha raízes,
esmigalha ninhos sem dó.
Ela se refaz de si mesma a toda hora,
até o infinito pedir perdão.
A dor que dói mais é a mágoa,
nada putrefaz com maior luz,
nada mesmo.
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