Cristal

Cristal

por quantas vidas foste vida assim tão bela?

por quantas eras te moldaste assim alegremente fera?

por quantas luas te voltaste para ela assim tão séria

e marcaste tua pele inteira com esta cor-pantera?

em quantas civilizações perdidas foste venerada deusa

e quantos reinos de marfim, opalescentes, perfumaste

com tuas essências de sândalo, almíscar e patchuli?

sim, que toda essa graça não se tem assim

só de ver, ouvir dizer e ser em uma vida só

que o mais que em ti existe não se deixa ver: queixa

de mortal que nunca chega a ter

e aonde vais, não passas - deixas marcas tão profundas

que nem toda a areia do Gobi pode encobrir

farol de olhos (que brilhar estranho!)

nave que vai sangrando o mar de aral

dizendo cedo que chegamos tarde ao cais

- publicada em SOB A PELE -