Do Que Conheço e Do Que Não Sei (Saudade)
Conforme vivo o que não conheço
e penso no que sei
penso que rei eu sou
que de mim pouco cuida
e assim caminho em profundezas
que gosto, porque cavei
Conforme vou cheirando o coração
descubro uma geladeira –
Fria, cheio de conservas
que sei que podem estragar
e que esquento, pra provar
O velho gosto das coisas
(por vezes agradam)
Mas procurei dia desses
o sabor da saudade estranha -
Saltou das entranhas, peralta,
bulindo minha chata calma
que virou paixão, num estalo!
O estalo do portão se abrindo
e te anuncia...
E que paixão é essa
que não acaba?
Que me põe no palco
e de platéia, só seu sorriso,
falta-me a fala, que decorei
e explicações que se apagam,
dissolvidas em sua voz
Não há temperatura
nem doença, nem coração –
Há o seu beijo, que me segura
e me conduz sem mãos
pra uma dança sem música
E minh’alma treme, infantil,
como cada vez sendo a primeira
sem esquecer de outras
mas celebrando cada uma -
Assim, que me envelheça a carne
Eu desligo a geladeira
e vivo do que conheço
pensando o que não sei –
entrego-me a você, distraído,
enquanto as estrelas nos olham...