Amor na casa da mãe Joana

A janela entreaberta ontem à noite,

eis que uma locusta pousou no teto!

quiçá, fugindo do escuro e seu açoite,

e se impôs sem saber se seria aceita,

olhei e pensei, fica aí, deixa quieto...

Afinal a gata da vizinha todos os dias

adentra e choraminga pede comida;

no começo incomodou eu até bania,

mas, voltava minutos depois que ia,

então, que fique bem, esteja servida...

Ademais, vira-latas de origem ignota,

também oram à porta pedem o osso;

de mau humor chamei no bico da bota,

é só mais um carente, que, vai e volta,

deixa estar, afinal, me sobra do almoço...

Ah, se certa mariposa que outro dia vi,

fugisse do escuro atraída por minha luz!

seu voo noturno a trouxesse bem aqui,

para saber se tem um lugar pra dormir,

e, se à fama de hospitaleiro eu faço jus...

A estrela não viria como a gata magra,

antes, brilhante como o polido berilo;

no ritual em que ao amor se consagra,

e, como a bela já vive na casa da sogra,

então, fácil se acostumaria, tranqüilo...