Nosso maior perdão
Quis te buscar desarmada, desnuda, descrente,
derrapada em mim.
Como uma rama de vento perdida no gargalo do medo,
como um pária embriagado pelas fronhas surradas do gozo.
Quis te catar meia fugida, meia fingida,
para descortinar minhas sílabas feito perdiz enclausurada no convento
das mamas sugadas,
fui te fazer viver e te fiz.
Quis te surrupiar das vértebras atônitas deste meu porre bastardo,
fazer você rodopiar na ponta inerte das minhas certezas,
e voar, como nunca voou antes.
Quis te aninhar sorrateira num engasgo surdo sem aparas,
nem desculpas.
Fui à cata da sua alma como um louco que perdeu sua própria sombra,
fiz o diabo para reter tuas comportas, fiz de tudo para não chorar,
e chorei.
Assim, corcundando cada passo manco das minhas tantas e poucas razões,
voltei para teus braços como se da guerra nada mais faltasse,
como se o tempo dissesse chega, não te quero mais.
Então, juntos, tão próximos, tão distantes,
ficamos até que Deus nos alforriasse,
e assim cumprimos nossa maré, nosso maior perdão.
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