ALMA PENADA
Escuro é meu porão
sem porta
sem janela
nem canção.
Sinto o cheiro do tempo
ouço passos do vento
galopes da paz, bem longe daqui.
Pela fresta da tábua
a lua a me visitar
confidente
dá corda no sonho que dança e toca
delicado, encantado
na caixa de música,
músculo estriado.
Toda noite é assim
sempre noite
já nem sei dos dias
não impoorta
é sempre tudo igual
na casa da loucura...
De repente
a lua foge assustada
o vento vem correndo
arranca as tábuas na escuridão
arromba o armário da saudade
gavetas arrancadas
sonhos despidos
alma dilacerada...
fogo consome
vento alimenta
rastros de lucidez...
já não há
meu Anjo virou cinzas
sou alma penada
insana
insone
desabrigada
ouvindo a caixa de música
distante
lançada no tempo
sem paz
sem Anjo
sem lua
nem sonho
nem coração
alma penada...
só quer descansar.
Jeanne Temis