No silêncio de noites insones (e em ruidosos dias insanos)
Não há jamais silêncio em noites insones.
Todas elas sangram nossos ouvidos
com ruidosas memórias de amores inacabados.
A saudade é um lacrimoso oceano
a separar duas ilhas de desejo.
Algumas luas atrás,
o vento soprou-me aos teus vizinhos mares
e meu pensamento deu direção à nau perdida:
vaguei por tuas praias,
uma errante peregrinação
em busca de um falso acaso.
Cronos continuava reinando e retorcendo
o desacerto das horas.
Minha nau,
novamente nas águas da saudade,
é um barco de velas costuradas
pelos fios da lembrança,
com que retorno à solidão da ilha.
Mas o teu poema,
mágica mensagem jogada ao mar,
reluz no véu negro da tua ausência sentida,
como um farol para os meus desejos,
ou carta náutica dos teus.
Teu poema é um astrolábio,
uma guia para o Mestre
se lançar às ondas revoltas da paixão.
Nas vagas desses mares,
timoneiro surdo das ruidosas lembranças,
troco os cantos das Sereias
pelos saudosos encantos da Bacante.
E agradeço ao choro da Poetisa,
que afogou Cronos em tuas insanas lágrimas,
distorcendo o tempo,
que parecia estar parado
desde aquele teu último beijo.
Joga, Bacante, outra garrafa ao mar!
Faça do vinho
a tinta dos teus versos!
Faça na taça
a trança das ondas!
Vai-e-vem escarlate dos desejos,
que empurram teus versos
até o mar da minha saudade...