PETIT MORT
 


O cão mastiga o resto de Mondrian,
e minha preguiça produz moscas varejeiras.
Seus dedos diluídos numa viola da gamba,
cantam a paz, o amor e o som de um 38.
Um revólver entre suas pernas.

Você se lembra do azul dos olhos de ontem?
Quando assaltava o volume em minhas calças?
E quando o estiramento muscular produziu o som,
e a viscosidade molhou sua boca,
na forma de um desejo embalado em alfaiataria?
Não estamos sós nesse rompimento epitelial,
cujos restos ficaram na flacidêz posterior.
Uma língua que encontra o vácuo que se dobra em si,
produz a demência de um humano posto de quatro.

22:22, é a hora para se entender o caos.
Quando o sistema falha e a convulsão chega,
as cores de Matisse gritam e se aniquilam
e o couro rompe a pela das costas nuas.

Tudo era espesso, como espesso era o dejeto.
Deixado na entrada da escotilha violada,
como a selvageria de uma dança-cavalgada
arrefecida pela corrente sanguínea, agora,
quase compondo uma morte anunciada.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 18/11/2012
Reeditado em 18/11/2012
Código do texto: T3992307
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