Amor indigesto
Ora, se tu me odeias
Odiar-te-ei sem meias
Mas, se o amor a ti recheia
Comer-te-ei de boca cheia
Agora, se o amor meu o teu refreia
Cuspir-te-ei da boca a ceia
E vomitarei como a baleia
Teu gorduroso amor entope-veias
E, do intestino por onde passeia
Guardá-lo-ei sob a areia
Onde o gato em dia arreia
Amores tais me presenteias
Ora, se tu me odeias
Odiar-te-ei sem mais nem meias
Pois se meu amor não saboreias
Nem com o teu não me alteias
E se só o dais com tantas peias
Para abrasar o que em mim ateias
Então antes que me engasgue a morte feia
Ou me entupam as tuas teias
Melhor na garganta o dedo que anseia
Regurgitar do estômago mal que ali esteia
Do que permitir ao veneno das carnes da sereia
Aos poucos matar-me de amor ou diarreia