CORAÇÃO EMIGRANTE
Eu, qual Orfeu viajante,
Sem lira mas com meu canto
De coração emigrante
Farei de ti um encanto.
Anda meu coração por aí
Em horizontes sem par
Sonhando chegar a ti
E sem pressas de voltar.
Já mora nele a saudade
Desde o dia em que parti
Procuro-te de verdade
Mas ainda não te vi.
Dia a dia caminhando
Sinto-me já um romeiro
Às vezes entro em desmando
Não encontrando o carreiro.
Não sei se longe ou se perto
Tem morada o meu destino
Só vejo à volta um deserto,
Nada mais eu descortino.
Este coração que chora
Penando de comoção
Sofre cá dentro lá fora
Por nunca ter afeição.
Se eu voltarei um dia
Há-de o meu fado dizer
A saudade em demasia
Matá-lo-á sem querer!
Frassino Machado
In FRAGMENTOS DE VIDA