NA AREIA DE ABRICÓ

Uma estrela ficou comigo
Na areia de Abricó
Não aparecera, mas mesmo encoberta
Nos lembrara seu brilho
Tua barriga de preamar chegava em
ondas para me levar
As mãos eram-me feitas de areia
Os lábios eram-te feitos de sal marinho.

No espectro que ali se dobrava
Da rocha em mira-mar
Eu aprendi te amar, garotinha
Na areia de Abricó...
Havia tamanha paz
Que para o desencantamento
Nem meus bramidos de aura
Nem teus gemidos de líquido.
Meus jeitos te atrapalhavam
Com a frígida areia alagada
Derrotando os jeitos dos alísios
Nos marouços dos teus vestidos.
Meus olhos velados de nevoeiro
Contíguo aos teus olhos de vegetação
Notavam-te perdida em espumas
Como a garotinha asfixiada
E que singeleza oferecer-me
Àquele macio de pescados
Ofuscando-te o olhar abandonado
Com meu manto de toque!
Muito resistimos, garotinha
Naquela treva ferina
Em meio a areias homicidas
Confinante a rocha da praia.
Por três vezes envolveste
Por três vezes retornaste à superfície
E te asfixiara não fossem
As contexturas de minha ternura.
Quando retrocedemos, o crepúsculo
Surgia em teu rosto
Em teus cabelos tinhas brisa
Em tua carne gotas d’orvalho.
No lençol verde da areia
Uma fronteira ficou enterrada
Afeiçoando a figura de uma pessoa
No centro do obelisco de alguns braços.
Quiçá que a fronteira, infante
Agora o tenha carregado o oceano
Porém jamais carregado à recordação
Daquele crepúsculo de ternuras
Na areia de Abricó.
R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 02/08/2005
Reeditado em 15/04/2006
Código do texto: T39801
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