ESPUMA INGRATA
Ah! Poeta porque choras?
Dizia eu ao eu sentido.
Ah! poeta porque gemes?
Sê forte, mais que afligido!
Ah! Porque não merecido?
Ah! Porque não ser primeiro?
Ah! Porque viver sonhando
Com o dia, o dia inteiro?
Ah! Porque não apelaste
Pro respeito de vazio?
Não doeu? E a virgem espuma
Que o vento forte a despiu!
Ah! Porque não me escolheste
Espuma sem prumo nem sorte
Em vez do sul, foi pro norte
Da rota logo se perdeu.
Ah! Poeta valoroso
Tu só sentirias a escuma
Degustavas da espuma
Aquilo que não se bebeu.
Mas espuma, oh! Triste espuma!
Não tiveste beira rochosa
Pois na fenda, melindrosa
Banzeiro não a abateria.
No entanto, a maresia
Foi por demais, impiedosa.
D’uma descida, deslize,
D’uma brancura, pretume!
Teu vislumbrar se desfez
Como o espanto de um cardume.
O esplendor do teu sorriso
Tal qual um círio sem lume!
A glória do teu renovo:
- fragrâncias de um vão perfume!
Borbulhar fosforescente
Naquele painel tenebroso!
Estado longe do gozo,
Transcendental num instante,
Redemoinho vibrante,
Quiçá fosse mais fogoso!
Quiçá! Porém triste espuma!
Oh! Triste, oh! Triste espuma!
Pegaste em meio a bruma,
Em um último borbulho, asfixia!
Póstuma mensagem se estendia
Nas grandes ondas do mar!
Até então não se via
O vento sem sinfonia,
Maré sem falha, falhar!