DESORDEM
enquanto você rumina o pastel do rancor
nuvens pintadas de pesadelos tomam forma de cavalos obesos
não, eu não durmo nunca mais desde que a cabeça da estátua
apareceu rolando no meu jardim esparramando pela boca
a arte de uma adivinhação que eu não pedi
mas que resolve os meus problemas de saber aonde vou
a quem devo amar nesta fantasia heboriana de falso demônio
roubando velhos decrépitos na praça
sinceramente estou sendo trouxa e otário há tempo demais
sinceridade é um signo trepado no cavalo metade peixe
sensualidades vãs esquecidas no tempo não me levam a agir
na meia noite do hoje que não acaba nunca doarei minhas mãos
ao plantio de cipós e nunca mais a sandice do aceno revelará
o que de louco agita tantas asas em mim
que mais pareço um sedentário caracol
eu busco a ruptura porque é preciso saber quem sou
romper docilidades e conveniências que se dane o vizinho
e seu pensamento de palavras tão cruzadas
que mais parece uma feira-livre do horror,
como pode o beato pretender o fogo
se a centelha é para quem desdenha boas maneiras
porque só na desordem há sabedoria e o arroubo celebra
uma criação geométrica pela festa?
Não importa aonde irei até o desimporte mais extremo
porque o mundo moderno padece de mitos razoáveis
e o urro é a única chave que abre a cela do espírito sem preço