TODOS OS PRESENTES QUE NÃO DEI
Começo pelo fio daquela nuvem que passou
Deixando marcas do frio na verde cobertura da montanha,
Como saísse de um caderno para brincar livre das tintas
E encontrasse um nome que a fizesse eterna como fumaça.
Começo pelo fio que vou enrolando no braço como uma pulseira
E vou espalhando pelo corpo, ficando preso à liberdade.
Como o faraó enfaixado dentro da pirâmide ficaria
Se quisesse abraçar a princesa alucinada
E ela estivesse soterrada em ouro longe dele.
Eu quero o sono desperto fazendo um arco no céu,
A flexa colorida no coração de um deus.
Desço até meus pés e percebo marcas do chão neles,
Trago lembranças de cada lugar.
Há fome e guerra em todos os níveis.
Subo até meus olhos, vislumbro coisas cegas
Aos olhos perfeitos demais
Que não enxergam o sol brilhando à noite,
Não conseguem ver a lua mergulhando no mar.
Estou desfiando a nuvem e tecendo um casaco
Quero vesti-lo ainda hoje
Para aquecer alguns frios sentimentos
Que colhemos durante a estação passada
Quando não havia nuvens amigas por sobre as casas.
Não associo datas a presentes,
Não consigo aproximá-los.
Mas quando a nuvem estiver em meu casaco
Terei um presente pronto,
Talvez você goste de casacos que flutuem e fazem chover.
Ou prefira passear entre as outras nuvens
Dentro de seu modelo de inverno.
Já estou com o corpo coberto pelas faixas,
Extraio de mim a costela fraturada,
O novo começo da criação,
Esperança renovada levando ao fim os erros
Simplesmente por voltar ao início.
Assim posso rever datas e tecer presentes
Despertar princesas adormecidas,
Socorrer faraós e levá-los de volta às pirâmides,
Desfiar nuvens maiores e agasalhar os que morrem de frio,
Ajudar a por um fim na guerra e na fome em todos os níveis.
Continuo não associando datas e visto o casaco distraído
Seus olhos dizem: “Não tem jeito!”
Ano que vem me lembro de fazer um mais bonito,
Mas a costela fraturada fica com você, dona das nuvens,
Por todos os presentes que não dei.